Há 30 anos, o mundo ouvia falar pela primeira vez de uma doença poderosa, que derrubava as defesas do corpo e desafiava os médicos. Os cientistas deram a essa doença o nome de AIDS. Logo, descobriram que era causada por um vírus e começaram a desenvolver remédios e buscar uma vacina.
A vacina até hoje não existe. Já os remédios ajudaram a fazer da AIDS uma doença controlável, mas ainda grave. Trinta anos depois, como será que uma nova geração que não testemunhou o sofrimento dos primeiros pacientes encara a AIDS? Como esses jovens de hoje se protegem da contaminação?
Durante todo o ano de 2011, o doutor Dráuzio Varella vai tirar todas as dúvidas no Fantástico sobre as doenças que mais preocupam o brasileiro. E ele começa falando sobre AIDS.
O combate à AIDS é um marco na história da medicina. Os primeiros casos apareceram em 1981. Três anos depois, já se conhecia o vírus e havia um teste para identificar seus portadores. Apesar dessas descobertas, assim que a doença se instalava o sofrimento e a morte eram inevitáveis. Em 1995, surgiu um coquetel, com medicamentos altamente eficazes contra o HIV, e a realidade mudou. Apesar de o número de casos ter parado de aumentar, a cada ano, 35 mil brasileiros se infectam.
“As pessoas mais jovens não tiveram a oportunidade de ver o que aconteceu no início da epidemia, e a gente não está sendo capaz de mostrar para eles com a devida intensidade a tragédia que nós passamos no começo dos anos 90. Isso traz uma falsa sensação de que as coisas estão todas resolvidas, o que não é verdade”, aponta o infectologista Esper Kallás.
“Eu sempre me cuidei, porque eu acho que é uma coisa que você tem que fazer, independente da relação que você tem e tudo mais. Sexo, afinal de costas, é um acordo que você faz com a pessoa. E o acordo está sempre volúvel de as pessoas quebrarem ou não”, destaca o estudante Daniel Piva.
A diretora do Centro de Referência e Treinamento em DST/AIDS, Maria Filomenta Cenicchiaro, explica como a pessoa faz o teste de HIV no CRT. “Sua entrada vai ser pela recepção que vai te orientar e vai encaminhar a pessoa para a equipe psicossocial que vai ter uma conversa que a gente chama de pré-teste”, explica a médica. “Se não tiver essa conversa, fica mais difícil receber um resultado para fazer toda essa elaboração no momento de pegar o resultado, o pós-teste, como a gente chama”.
“Eu comecei a minha vida sexual um pouco tarde. Eu perdi a virgindade com 19 anos, no primeiro relacionamento que eu tive. Do período que eu comecei a minha vida sexual até quando eu contrai o HIV, foi muito pouco tempo. Eu tive pouquíssimas experiências sexuais, na verdade”, revela o professor Samir Amim.
Samir sempre foi um rapaz bem comportado. Não exagerava na bebida, não usava droga nem fazia sexo com profissionais. Aos 20 anos, tinha tido apenas cinco ou seis namoradas. Em uma relação sexual desprotegida com uma delas, pegou o vírus da Aids. “Eu estava em uma fase angustiada, muito difícil. Aí, eu procurei na noite, procurei nas baladas, procurei um pouco na bebida uma forma de me aliviar. Aí conheci pessoas, não me preocupei muito com as conseqüências de me relacionar sem preservativo. Nem pensava na prevenção. Acabei me relacionando. A pessoa não tinha preservativo, e acabou acontecendo”, conta o professor.
Samir revela que descobriu que estava com o vírus uns dois meses depois. “Eu comecei a passar mal. Tive muita febre, dor de cabeça, muito enjoo. Eu fiquei praticamente um mês inteiro passando mal com esses sintomas. Apareceram gânglios, dor no corpo – tudo isso apareceu. Juntando esses sintomas todos, eu mesmo fui até o pronto-socorro e pedi o exame anti-HIV”, afirma.
Os sintomas podem aparecer duas a quatro semanas depois de contrair o vírus: febre, dor de cabeça, dores na garganta, nos músculos e nas juntas, ínguas no pescoço e nas axilas, machas vermelhas no corpo. Mas na maioria dos casos não há sintomas, ou eles são tão leves que podem ser confundidos com um mal-estar qualquer.
O estudante Daniel Piva está bem, mas, como sabe que o HIV é traiçoeiro, decidiu fazer o teste.
“Nós temos duas formar de realizar: o teste convencional (recolhido à sorologia, e depois de dez ou doze dias está pronto o resultado) ou o teste rápido (que no mesmo dia a pessoa pega o resultado)”, explica a diretora do CRT em DST/AIDS, Maria Filomenta Cenicchiaro.
O doutor Dráuzio Varella faz o teste rápido em duas amostras de sangue. Cada uma delas pertence a um paciente.
Quando o vírus da AIDS entre no organismo nossas defesas imunológicas produzem anticorpos para combatê-lo. O teste da AIDS detecta a presença desses anticorpos. Se existem anticorpos contra o vírus, é porque houve a infecção. Como a produção de anticorpos não acontece do dia para a noite, não adianta fazer o teste logo depois da relação sexual sem camisinha. É melhor esperar cerca de 30 dias.
“Quando abri meu exame, já era um pouco esperado. Claro que a gente fica sempre naquela ansiedade, naquela pequena esperança de que não seja, mas de fato foi. Nesse primeiro momento, eu não pensei muita coisa, mas veio uma imagem, uma imagem como se eu estivesse olhando em uma janela para um horizonte e alguém fechasse uma cortina. Foi meu primeiro impacto. Eu não consegui pensar em nada. Só veio essa imagem, uma sensação. Eu me calei. Fiquei durante alguns minutos em silêncio. Eu não conseguia falar muita coisa”, lembra o professor Samir Amim. “A minha principal reação na vida, naquele momento, foi me trancar, me distanciar de todo mundo. Eu fiquei muito quieto”.
Há 17 anos, quando começou diretora do CRT em DST/AIDS, Maria Filomenta Cenicchiaro, a trabalhar na área, essa doença era fatal. Hoje, tem tratamento, e as pessoas vivem muito bem e por muitos anos. Ela diz que diferença isso representou para o teste.
“Nós tínhamos a oportunidade de oferecer o teste mais não tínhamos muito que propor no pós-teste. Estávamos iniciando uma proposta de medicação. Hoje, não. Hoje as pessoas acreditam que possam viver mais com qualidade e não morrer mais de AIDS”.
Desde que Samir descobriu ser portador do HIV, cinco anos se passaram. Ele voltou a sair com os amigos, terminou a faculdade de letras e quer ser professor.
“É difícil explicar (como foi essa transição. O que eu fiz foi investigar muito os meus sentimentos e tentar olhar muito para mim até o ponto que eu percebi o espaço do HIV na minha vida que eu acho que é o grande segredo. Era o lugar de vírus que viveria comigo a vida inteira. Se precisar tomar medicamento, eu teria que tomar. Agora faço uso do tratamento. E que seria um espaço que não diria para mim quais eram os meus sonhos, quais seriam as minhas vontades, quais os meus amores, qual seria o meu futuro. Eu vou dizer isso para mim. Não é o HIV”, afirma o professor.
O teste do HIV é rápido e seguro. Você precisa fazer o teste justamente porque os sintomas da AIDS levam muito tempo para aparecer. Se você teve alguma relação sexual com penetração sem preservativo, procure uma unidade básica de saúde.
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