11 de dezembro de 2009

DICAS DE FILMES - "Bee Movie - A História de Uma Abelha"

BEE MOVIE - A HISTÓRIA DE UMA ABELHA

Sistemas e Ecossistemas em discussão


Através dos desenhos animados o mundo ao nosso redor pode ser transformado, adaptado, refeito, repensado. Por isso vemos variadas animações surgirem, ano após ano, nos colocando em universos distintos.


Já vimos desenhos em que os brinquedos são os protagonistas [Toy Story], insetos [Formiguinhas], animais de regiões geladas [Happy Feet], espécies de localidades quentes [Madagascar] ou do fundo do mar [Procurando Nemo] ou ainda máquinas que ganham vida [como Robôs ou Carros].

Ainda há vertentes que trabalham com histórias clássicas [Pinóquio, Cinderella, Branca de Neve] ou ainda aquelas produções que se decidem por posicionamentos mais críticos, tanto à sociedade quanto aos próprios contos de fadas [Os Simpsons, Shrek].

E o que há de comum entre histórias ambientadas em locais tão diversos, protagonizadas por animais ou máquinas?

Além do fato de que essas produções são realizadas por grandes companhias norte-americanas (como a DreamWorks, a Fox ou a Disney/Pixar), o que há de relevante é o fato dessas animações reproduzirem, tramas que aproximam seus protagonistas da realidade humana, ou seja, reproduzindo o cotidiano de trabalho, os sentimentos, as sensações, os habitats, os utensílios, as relações...

Mas, como obras de ficção, criam-se realidades que reproduzem e procuram ir além dos elementos básicos do cotidiano humano, ao fantasiar e tornar mais empolgante, interessante e rica a existência. Nesse sentido, a luta pela sobrevivência, aparentemente banalizada pelo dia a dia , numa animação se transforma em histórias que empolgam, divertem, fazem os espectadores mirins [e de todas as faixas etárias] rir e, ainda guardam espaço para que no meio de todas essas possibilidades de diversão, se possa ainda pensar, refletir, conhecer, saber e crescer.


Os desenhos animados produzidos principalmente a partir do final dos anos 1980, com produções pioneiras como A Pequena Sereia ou O Rei Leão, foram produzidas com o intento de ir além do puro entretenimento, desafiando a lógica de mercado e imputando a essas produções e a esse nicho de mercado cinematográfico o compromisso de respeitar e estimular a inteligência das crianças e adolescentes que lotam as salas de cinema a cada nova produção.

Bee Movie, produzido pela DreamWorks e originalmente concebido pelo astro da TV americana, Jerry Seinfeld é mais uma dessas valiosas contribuições da cultura pop destinada as crianças que nos ajuda a compreender melhor o mundo em que vivemos.

Nessa animação há, por exemplo, a reprodução das bases operacionais da sociedade humana no universo das abelhas, da construção de sua colméia e interação com o mundo externo, onde transitam em busca de pólen para abastecer e fomentar a produção de mel, principal elemento de sustentação e sobrevivência da vida das abelhas.

Não apenas reproduz o que seria uma estrutura de operação e trabalho no mundo das abelhas aproximando-a daquela típica dos seres humanos e de suas comunidades, mas vai além procurando criticar, de forma irônica e subliminar [nas entrelinhas] práticas, padrões, comportamentos e estereótipos assumidos não pelas abelhas, mas pelos humanos.

Ao assumir esse compromisso crítico e mobilizar-se na direção de um entretenimento que diverte e que também provoca, estimula e propicia a possibilidade da crítica, animações como Bee Movie tornam-se recursos culturais de inestimável valor para a educação. É imprescindível, no entanto, que para que isso aconteça, os educadores se mostrem propícios a compreender sua lógica, estrutura e possibilidades pedagógicas. Somente a partir de então será possível adaptar, adequar, planejar e orientar o uso desse e de outros desenhos animados para um trabalho de qualidade em sala de aula.


O filme


Barry acabou de se formar e mal recebeu o diploma já está empregado. Isso é, certamente, o sonho de 10 entre 10 recém-formados, terminar um curso e já estar formalmente integrado ao mercado de trabalho. Aonde ele irá trabalhar? Como todas as abelhas, na produção de mel, em alguma etapa do processo produtivo que mantém a vida naquela Colméia, afinal de contas Barry é apenas uma abelha a mais numa colônia onde elas podem ser contabilizadas aos milhares...

Mas diferentemente de seus parceiros e colegas, Barry não está conformado. Ele quer ir além, tem sonhos de conhecer o mundo externo e atuar de forma mais incisiva na relação das abelhas com os outros seres e habitats, mesmo no que tange ao contato com os seres humanos, relativamente aos quais eles deveriam manter distância.

No entanto, como no mundo dos humanos, as abelhas desse mundo animado também são talhadas e destinadas a trabalhar de acordo com suas possibilidades e potencialidades – explorando suas características e qualidades mais evidentes. E Barry não tem os atributos necessários para o exercício da função que faria com que ele tivesse mais contato com o mundo externo, a de abelha em busca de pólen, a matéria-prima essencial para a sobrevivência de todos os membros da coletividade.

Isso não quer dizer que ele vá simplesmente aceitar essa situação e agir em conformidade com as regras estabelecidas. Pelo contrário, assim que surge uma oportunidade, Barry voa mundo afora e acaba conhecendo não apenas o mundo externo... Ele cria elos e relações com os humanos ao firmar amizade com a jovem florista Vanessa [por quem, literalmente, arrasta uma asinha, sem trocadilhos].

E mais, ao arriscar-se fora da colméia, Barry descobre que os seres humanos se apoderam do mel produzido pelas abelhas e, literalmente, alienam as produtoras do resultado de seu trabalho...

Onde vai dar isso? Num enorme processo liderado por Barry contra os seres humanos... E a repercussão dessa iniciativa das abelhas? Numa mudança de rumo que afeta a própria estrutura de funcionamento dos ecossistemas que existem na Terra...

Bee Movie é apenas uma animação, mas certamente pode provocar muitos debates e estimular a aprendizagem e o conhecimento de variados temas ali apresentados, da questão ambiental aos sistemas de trabalho, das diferenças entre as espécies ao sistema judiciário, dos meios de comunicação de massa aos procedimentos de marketing e venda de produtos... Imperdível!


Para Refletir


1. Como funciona uma colméia? E as abelhas, quais são suas características? O mel é considerado um ótimo alimento, o que motiva os nutricionistas e médicos a afirmarem isso? Explorar inicialmente o universo das abelhas [seu trabalho, relações e produção] é um ótimo início de projetos envolvendo a produção Bee Movie. Buscar informações adicionais em sites, livros e documentários seria de grande valor para projetos com qualquer faixa etária.

2. Os ecossistemas existentes na Terra são extremamente frágeis e dependentes da relação entre as diferentes espécies. Nesse ínterim a presença dos seres humanos acabou transformando o meio e promovendo alterações e modificações como o desaparecimento de algumas espécies e até mesmo a propagação de outras. Ao retratar isso, Bee Movie sugere uma reflexão e estimula produções acerca de como o desaparecimento de uma espécie animal ou vegetal causa danos a vida de todos os outros seres vivos... Que tal explorar essa premissa?

3. A reprodução em escala colméia da sociedade humana e de seu funcionamento é ao mesmo tempo, satírica e crítica. Através dessa estratégia dos produtores o que se quer é fazer rir e, ao mesmo tempo, estimular a sempre necessária reflexão acerca dos padrões sociais em que vivemos. Seria bastante útil fazer uma averiguação e exame acurado da animação com o propósito de realizar paralelos entre os padrões da colméia e da sociedade humana para que percebamos e repensemos práticas, ações, estratégias e sistemas que não são tão úteis quanto parecem...

Ficha Técnica


BEE MOVIE

A História de Uma Abelha

País/Ano de produção: EUA, 2007
Duração/Gênero: 90 min., Animação/Comédia
Indicação Etária: Livre
Direção de Steve Hickner e Simon J. Smith
Roteiro de Spike Feresten, Jerry Seinfeld, Andy Robin e Barry Marden
Elenco (vozes): Jerry Seinfeld, Renée Zellweger, Matthew Broderick, Chris Rock, Ray Liotta, Sting, John Goodman, Kathy Bates, Barry Levinson, Oprah Winfrey, Patrick Warburton, Larry King, Rip Torn.

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